Minha nossa...Há tempos eu divago sobre escrever este artigo, como poderia fazê-lo o mais próximo possível do que li, pesquisei e sinto. E devo admitir que a tarefa não é a das mais fáceis, mas vou tentar ficar o mais próximo possível do significado de Tarab que eu poderia dizer que é como a definição de um sentimento, voce precisa sentí-lo libertando as suas emoções e te dando outra perspectiva do que é a música.
´ãlam al-tarab = The world of Tarab
Infelizmente para algumas pessoas e bailarinas, acreditem...Tarab é música velha, comprida que não se deve perder tempo ouvindo, pega a versão curta, dança e tá bom. Pode parecer que estou sendo drástica, mão não, é a pura verdade (adoraria esganá-las como o Homer esgana o Bart Simpson,ai ai...), não há curiosidade pela real música oriental, neste caso a egipcia, por sua essência, substitui-se por um arremedo em forma de rotina oriental e vamos seguindo. e outras atrocidades, mas nem vou entrar nesta seara senão o artigo muda de nome e foco.
A definição de Tarab é bastante complexa a partir do momento que voce tenta desenvolver um modo de descrevê-lo, pois o Tarab não é simplesmente uma definição musical e nem uma teoria passível de ser fechada na belíssima notação musical oriental (maqam) e/ou na modulação vocal, ele vai além, e muitos estudiosos da música oriental que experimentaram ouvir as músicas que são definidas dentro deste conceito são categóricos em afirmar que é uma mistura de sensações: o som, o cantor, a música, o apelo ao sentimento, a resposta do público a este, a sensação de êxtase, é uma emoção que toma a sua alegria, a sua tristeza, momentos bons e ruins e os lança ao ar fazendo com que todos se sintam cercados de uma sensação curiosa e inexplicável, como se a música o fizesse reviver uma realidade, uma vida anterior, transcedental que vai além do que se pode dizer, só a emoção pode ajudar a descrever o que é o Tarab.
O Tarab como o conhecemos hoje é a parte que podemos ter acesso a partir da realidade da gravação em disco de 78 rpm (que não pesquisei além, mas voce pode ler algo aqui no Wikipedia - Disco de 78 rpm) quando foi possível gravar ao vivo as belíssimas músicas árabes, grandiosas de várias maneiras, incluindo em seu tamanho (40min,1h, 2h, até mais...), abaixo segue um video com 2h e 35min de Enta Omri que infelizmente está sem som a partir de 1h e 40min, uma perda, adoraria ouví-la.
Existem outros grandes músicos, cantores e cantoras da música árabe que não foram agraciados com esta possibilidade de difusão, mas que continuam vivos e presentes na tradição oral da música árabe e nos seus fãs músicos do século XX e daí por diante, o que significa que para estudarmos as raizes do Tarab para ficar mais próximo da sua realidade conceitual/teórica teríamos que ter mais acesso ao estudo da música oriental egipcia do século XIX e até mais se fizermos paralelo ao surgimento dos instrumentos árabes. Existem alguns livros em inglês e francês que citam uma ou outra coisa anterior ao século XX até um pouco depois da metade do sec. XIX em termos de estudo da música árabe, mas para sabermos mais só indo à fonte e/ou estudando com músicos árabes, mas vamos neste momento voltar a alguns aspectos do significado amplo e subjetivo do que é o Tarab.
Eu não sei explicar o sentimento, a sensação que tenho em relação ao Tarab, mas há citações na internet que o descrevem como um "estado de encatamento", mas é uma definição pequena para o tamanho da sua beleza e mudança que causa em todos os presentes, mas existem palavras em árabe que ajudariam a explicar um pouco mais esta tentativa de definição, mas como ainda estou buscando mais informações sobre elas e a sua relação de identificação com alguns músicos árabes denominados por estas palavras, vou utilizar as palavras ocidentais que temos para tentar explicar ou confundir ainda mais a sua cabeça leitor...
Todas estas significações moram no sentido de Tarab enquanto uma ponte de liberação emocional de tudo o que sentimos sem qualquer tipo de controle, o sentimento simplesmente pula e voce se pega completamente desarmado e aí voce canta, ri, chora, gesticula junto à música, orquestra lá da sua cadeira aquele solo especial de algum instrumento.
É possível concluir (em termos) que a nossa sensibilidade é extravasada, o nosso corpo é libertado da contenção da cadeira ao mesmo tempo que precisamos voltar a ela para dar atenção ao próximo momento da música, e enquanto escrevo este artigo gesticulo ao nosso modo latino na tentativa de tentar colocar em palavras como o Tarab é grandioso para além de quem fala o árabe, ou o é, mas também para aqueles "estrangeiros" que o amam de um modo que é difícil explicar, somos os "árabes honorários" por assim dizer...
Este video logo acima é um exemplo de uma das experiências de Tarab que tive em uma das minhas primeiras pesquisas para uma apresentação bem no início, e através de um grande pianista e compositor chamado Omar Khairat vivi uma sensação diferente. A música se chama "El Masry" que significa "O Egipcio", e eu não sei explicar, mas quando a ouvi a primeira vez tocada pelo Omar eu chorei e ao mesmo tempo eu estava feliz, era uma sensação sã e insana ao mesmo tempo, eu não conseguia ouví-la em público, pois chorava, e não tenho como dizer como isto me afetou e afeta, talvez daí venha a minha necessidade de sempre lidar com as músicas da terra (oh...) e a minha inaptidão à rotina oriental, o meu corpo não responde a uma música que não carregue diretamente o sentimento de uma música árabe, seus instrumentos, sua essência, é muito intenso o sentimento e a euforia que tenho cada vez que consigo acessar mais um músico árabe, mais uma tradução destas preciosidades ou ouvir por 1 hora uma única música sem perceber. Mas voltando à música, ela é um hino tocado e tocado, que fala do legado egipcio em suas várias áreas, a beleza de sua cultura, música, expressão, e no video voce pode ver a resposta do público a ela, e logo abaixo temos a cantora Latifah no video oficial da música e do filme.
Detalhe: a palavra Balidi é utilizada para recorrer ao sentido de pertencimento.
Eu não sei explicar o sentimento, a sensação que tenho em relação ao Tarab, mas há citações na internet que o descrevem como um "estado de encatamento", mas é uma definição pequena para o tamanho da sua beleza e mudança que causa em todos os presentes, mas existem palavras em árabe que ajudariam a explicar um pouco mais esta tentativa de definição, mas como ainda estou buscando mais informações sobre elas e a sua relação de identificação com alguns músicos árabes denominados por estas palavras, vou utilizar as palavras ocidentais que temos para tentar explicar ou confundir ainda mais a sua cabeça leitor...
êxtase - transe - emocional - silêncio
euforia - alegria - tristeza - estimulação sensorial
euforia - alegria - tristeza - estimulação sensorial
Todas estas significações moram no sentido de Tarab enquanto uma ponte de liberação emocional de tudo o que sentimos sem qualquer tipo de controle, o sentimento simplesmente pula e voce se pega completamente desarmado e aí voce canta, ri, chora, gesticula junto à música, orquestra lá da sua cadeira aquele solo especial de algum instrumento.
É possível concluir (em termos) que a nossa sensibilidade é extravasada, o nosso corpo é libertado da contenção da cadeira ao mesmo tempo que precisamos voltar a ela para dar atenção ao próximo momento da música, e enquanto escrevo este artigo gesticulo ao nosso modo latino na tentativa de tentar colocar em palavras como o Tarab é grandioso para além de quem fala o árabe, ou o é, mas também para aqueles "estrangeiros" que o amam de um modo que é difícil explicar, somos os "árabes honorários" por assim dizer...
Este video logo acima é um exemplo de uma das experiências de Tarab que tive em uma das minhas primeiras pesquisas para uma apresentação bem no início, e através de um grande pianista e compositor chamado Omar Khairat vivi uma sensação diferente. A música se chama "El Masry" que significa "O Egipcio", e eu não sei explicar, mas quando a ouvi a primeira vez tocada pelo Omar eu chorei e ao mesmo tempo eu estava feliz, era uma sensação sã e insana ao mesmo tempo, eu não conseguia ouví-la em público, pois chorava, e não tenho como dizer como isto me afetou e afeta, talvez daí venha a minha necessidade de sempre lidar com as músicas da terra (oh...) e a minha inaptidão à rotina oriental, o meu corpo não responde a uma música que não carregue diretamente o sentimento de uma música árabe, seus instrumentos, sua essência, é muito intenso o sentimento e a euforia que tenho cada vez que consigo acessar mais um músico árabe, mais uma tradução destas preciosidades ou ouvir por 1 hora uma única música sem perceber. Mas voltando à música, ela é um hino tocado e tocado, que fala do legado egipcio em suas várias áreas, a beleza de sua cultura, música, expressão, e no video voce pode ver a resposta do público a ela, e logo abaixo temos a cantora Latifah no video oficial da música e do filme.
Detalhe: a palavra Balidi é utilizada para recorrer ao sentido de pertencimento.
O TARAB E AS BAILARINAS
Esta é uma questão delicada, quando há a confusão de acreditar que dançar e Tarab vivem no mesmo significado só porque dança uma versão de Enta Omri ou Bent El Sultan, a vida complica... Uma coisa é a dificuldade de acesso, outra é o desinteresse por pesquisar, perguntar, buscar saber mais sobre a música árabe para que não acabe dançando Najwa Karan como cantora de saidi (crendiospadre!!!), não gosto nem de lembrar desta e de outras coisas medonhas que já vi em eventos de dança, avaliações e conclusões que dão calafrio só de pensar...
Não dá para se aprofundar na música egipcia quando a bailarina tem preguiça de ouvir Oum Kalthoum, Adaweya, Abdel, Wahab, Farid, Warda, Asmahan, Hassam, Fatme, Roushdy, Metkal e vários outros grandes nomes da música egipcia (incluindo baladi e saidi, pois aqui também pode se experimentar o Tarab). É chato dizer isto, mas a mesmice da qual reclamamos reside na falta de conteúdo e interesse de muitas moçoilas, que ficam naquela de utilizar as músicas de outras bailarinas para suprimir um vazio de qualidade e quem sabe conseguir um pouco do sucesso da tal renomada (Osmose Youtube) só por dançar a música X ou Y, e aí somos obrigadas a ouvir 100 vezes a mesma música com a mesma forma de movimentos, e aí perdemos todos.
Mas vamos para o lado grandioso de se dançar com seriedade e consciência até certo ponto, pois como se trata de Tarab, estamos a falar da conexão entre músicos, música, público e bailarina.
Segundo algumas citações em livros e de bailarinas dançando no Egito, a experiência de Tarab é uma condição que vem a acontecer quando voce possui uma característica própria de ser e de se movimentar, não há espaço para formas aqui, pois ao comunicar a música ao público e dele receber o retorno voce não se move sobre uma base de movimentos marcada pela repetição coreográfica, há uma condição especial onde voce oscila junto à música, rompe medidas e se demonstra tão fã e envolvida como qualquer um dos presentes, mas com um toque especial porque consegue trazer à tona, ao corpo em movimento um modo especial e único de apresentar a música. E é impossível repetir o feito, porque ele nasce e se fixa naquele instante nos olhos e na memória dos presentes. E aqui não cabe avaliações de videos, o raio da mania feia que nós bailarinas temos aqui no ocidente de pensar que tudo é um ângulo de video, esquecendo que o mais velho 3D do mundo e ainda muito encantador é o corpo humano se espressando em todas as direções.
As grandes bailarinas que estudamos tem mais que movimentos, elas possuem um modo especial de traduzir a música, não por acaso nos encantam e sempre dão um sentido especial, e marcam a sua época.
E por aqui encerro minha tentativa de descrever em palavras estrangeiras o Tarab, sem citar videos nesta etapa, pois teria que dizer o que sinto e vejo de especial naqueles em que considero inspiradores e representantes deste momento tão especial. Fica para as próximas postagens.
Em Maio/2013..
Volto a este artigo para dizer que a compreenssão do Tarab passa por assumir um perspectiva poética, pois a boa música árabe é assim... não perde suas raizes e desta forma seu encantamento.
Também quero add. um momento Tarab que vem da inspiração, o Mawal que é um tipo de canto improvisado/chamado que não é particular dos músicos, é uma forma de expressão emocional, poética, muito intíma daquele que se expõe, ou seja, um poeta pode usar o Mawal para demonstrar sua Arte, ou um senhor ou senhora da sua janela ou quintal pode começar a fazê-lo pela simples felicidade de estar com sua família ou apreciando mais um entardecer ou uma noite de estrelas... As possibilidades são muitas ao coração de um poeta ou poetisa.
*A explicação técnica do Mawal, seu significado e outros exemplos ficam pra uma próxima vez...
Sabah - Eita!!!!!
El Masry (Tradução)
تعرف تتكلم بلدي
T3raf titkalim baladi
Do you know how to talk to the native language
وتشم الورد البلدي
Witshim elward elbaladi
And smell the native flowers
وتعيش الحلم العصري
Wit3eesh el7ilm el3a9ri
And live the modern dream
يبقى انت أكيد المصري
Yib2a enta akeed ma9ri
Then for sure you are egyptian
تعرف بالعربي تنادي
T3rf bil3arabi tnadi
Do you how to call out in arabic
بسم الله وبسم بلاديbism Ellah o bism blade
In the name of God, and in the name of my country
نورك للعالم يسري
Norak lil3alam yisri
Your light overflows to the world
يبقى انت أكيد المصري
Yib2a enta akeed ma9ri
Then for sure you are egyptian
المصري حبيب متحمس
Elma9ri 7abeeb mit7amis
The Egyptian person is an enthusiastic loved one
لو حتى بدقة يغمس***
Lo 7ata bda2a y’3ms
لو جاله حبيب يرتاح له
Lo jala 7bib yirta7 lo
If a loved one came to him, and he felt comfort
لو جاله حسود بيخمس
Lo jala 7asod biy5amis
Or if someone envious came to him
محفوظ بيغني يا ليل
Ma7fo’6 bi’3ani ya lail
Ma7foo’6 sings “oh night”
على دقة قلب زويل
3ala da2at alb zwail
On the beat of Zwail’s heart
وحليم ف الهوى دوبنا
O 7aleem fil hawa dawabna
And 7aleem melted us in love
على قد الشوق والميل
3ala ad elsho2 wil mail
On the beat of longing and tendency
وياويل من بنسى يا ويل
O ya wail min binsa ya wail
And oh woe on he hwho forgets, woe in him
ثومة ومنديلها الوردي
Thoma o mindelha elwardi
Thoma and her pink handkerchief
غنواية جيل ورا جيل
‘3inwayat jeel wara jeel
The singer of one generation after another
قادر على أي تحدي
2ader 3ala ay ta7adi
He is capable of any challenge
CONTINUA... Mais sobre como sentir o Tarab
2 comentários:
Adorei a forma como você tratou o assunto, achei que eu fosse a única que sentia desse jeito. Bom saber de mais pessoas que se emocionam só por ouvir uma música e valoriza a verdadeira emoção das bailarinas
Este texto me ajudou muito a entender um pouco mais sobre o Tarab, intuitivamente eu já sabia um pouco sobre, pois assim como vc descreveu o que sentiu ouvindo El Masry, eu já senti ouvindo a primeira vez Enta Omri, com a Oun. Isto foi há 12 anos, pois fui procurar a versão original da música que estávamos aprendendo para apresentarmos no fim de ano, era uma coreografia para comemorar 1º ano de dança... Eu nunca tinha ouvido este estilo musical, somente as músicas mais animadas. E, enfim no meio da música me peguei quase que desprendida de mim mesma, chorando em soluços e alegre tbm, rs, é impressionante o que o Tarab faz em nossa alma. Daí eu fui buscar a tradução da música e achei ela mais linda ainda. A partir deste dia eu passei a gostar mais das músicas "antigas" ou seja, das que expressavam o Tarab.
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